Características clínicas e laboratoriais que poderão sugerir um pior prognóstico em doentes infectados com COVID‐19


Referência: Chen T, Wu D, Chen H, et al. Clinical characteristics of 113 deceased patients with coronavirus disease 2019: retrospective study BMJ 2020; 368 :m1295. doi: 10.1136/bmj.m1295

Análise do estudo: trata‐se de um estudo de coorte retrospectivo que analisou as características clínicas de 799 doentes com COVID‐19 do Tongji Hospital, em Wuhan, China. Os autores compararam 113 doentes que tinham falecido com 161 doentes que tinham recuperado à data de 28 de Fevereiro de 2020. Aqueles que faleceram eram significativamente mais idosos (idade mediana 61 anos vs 51); tinham mais comorbilidades ‐ como hipertensão crónica e outras doenças cardiovasculares (48% e 14% vs 24% e 4%); apresentaram mais frequentemente dispneia (62% vs 31%), pressão no peito (49% vs 30%) e alteração do estado de consciência (22% vs 1%); e tiveram mais frequentemente leucocitose (50% vs 4%) e linfopenia (91% vs 47%). Dos doentes que faleceram, as complicações mais comuns incluíram SARS, insuficiência respiratória tipo I, sépsis, lesão cardíaca aguda, insuficiência cardíaca, alcalose, hipercaliémia, lesão renal aguda e encefalopatia hipóxica. O tempo mediano desde o aparecimento da doença até à morte foi de 16 dias.

Aplicação prática: num contexto em que sistemas de saúde de todo o mundo se encontram sobrecarregados com doentes Covid‐19 carecendo de cuidados médicos urgentes, é fundamental recolher precocemente os sinais clínicos e laboratoriais que permitam identificar os infectados de mais alto risco, que possam vir a necessitar de cuidados avançados (internamento e/ou ventilação assistida). Apesar do presente estudo ser retrospectivo e com uma amostra de pequena dimensão (portanto com necessidade futura de confirmação com amostras maiores), a evidência gerada pode ser útil na prática clínica.

Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro

Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)

Doentes infectados com SARS‐CoV‐2 e com doença cardíaca incidente têm pior prognóstico durante o internamento hospitalar

Referência: S Shaobo, Q Mu, S  Bo et  al. Association  of  cardiac  injury with mortality  in  hospitalized  patients with  COVID‐19  in Wuhan, China. JAMA Cardiol Publicado online a 25 de Março de 2020. doi:10.1001/jamacardio.2020.0950

Análise  do  estudo: Foram analisados  416 doentes  (mediana da idade  64 anos,  51% mulheres) internados por SARS‐CoV‐2  no Renmin Hospital da Universidade de Wuhan. Cerca de 20% (n=82) vieram a desenvolver doença cardíaca durante o internamento. Estes doentes, eram mais idosos, apresentavam maior número de comorbilidades e tinham um conjunto de variáveis laboratoriais mais  alteradas,  quando  comparados  com  outros  doentes  sem  lesões  cardíacas  (nº  de  leucócitos  mais  elevado,  nível  de  PCR, procalcitonina e enzimas cardíacas mais altas – entre outras). Os raio X de tórax destes doentes apresentavam lesões pulmonares mais desenvolvidas. A evolução clínica durante o internamento  foi mais grave neste subgrupo de doentes,  requerendo maior suporte ventilatório não invasivo (46% vs. 4%) e/ou invasivo (22% vs. 4%). A percentagem de complicações clínicas foi também mais elevada em  termos de incidência de ARDS, insuficiência  renal, alterações hidroelectrolíticas, baixa de proteínas séricas e alterações da coagulação. A taxa de mortalidade intra hospitalar foi 10 vezes superior (51% vs. 4,5%).

Aplicação prática: como seria de esperar, doentes que durante o internamento por infecção por SARS‐CoV‐2 tiveram episódios de  lesão miocárdica  aguda  apresentaram maior  taxa  de  complicações e  uma mortalidade muito mais elevada. Eram  doentes bastante mais idosos  (médias de idades 74 vs.  60 anos) e com maior conjunto de doenças e  factores de  risco cardiovascular. Conclui‐se que estes doentes de alto risco devem ser seguidos com particular atenção durante o seu internamento com infecção com o SARS‐CoV‐2.

Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro

Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)

Existem factores clínicos que permitem identificar precocemente pior prognóstico em subgrupos de doentes infectados com o SARS‐CoV‐2

Referência: Zhou F, Yu T, Du R et al. Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID‐19 in Wuhan, China: a retrospective cohort study. Lancet March 9 2020. doi:10.1016/s0140‐6736(20)30566‐3

Análise do estudo: Estudo coorte retrospectivo que procurou comparar evolução clínica e factores de risco associados a mortalidade por SARS‐CoV‐2 em doentes internados na China. O estudo incluiu 191 doentes de dois hospitais, 135 do Jinyintan Hospital e 56 do Wuhan Pulmonary Hospital, de Wuhan, China. Cerca de metade dos doentes apresentava comorbilidades, sendo a principal a hipertensão arterial (30%), seguida de diabetes (19%) e doença coronária (8%). Na altura do internamento,  factores como 1) idade mais avançada, 2) D‐dímeros >1 ug/L e 3) score de SOFA  (falência multiorgânica) mais elevados no momento da admissão hospitalar indicaram maior probabilidade de morte hospitalar. O  RNA  viral era  detectável, em média, até  20  dias após  o  início  da  sintomatologia  nos  doentes  que  tiveram alta, mantendo‐se também detectável nos doentes falecidos.

Aplicação prática: Este é um estudo de uma coorte de doentes SARS‐CoV‐2 que apresenta sinais e sintomas, factores de risco e resultados semelhantes a várias outras, demonstrando que o quadro clínico é constante através de grupos de doentes, de países e de regiões do globo. Nesta coorte,  foi possível identificar os sinais de mau prognóstico do internamento hospitalar que podem ser colhidos precocemente à entrada, ajudando na gestão clínica destes doentes. O período prolongado de libertação viral justifica as medidas de isolamento dos casos.

Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro

Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)