Os lares para idosos são locais de elevado risco para ocorrência de surtos de COVID‐19, com impacto marcado tanto nos residentes como nos trabalhadores


Referência: McMichael T.M. Epidemiology of Covid‐19 in a Long‐Term Care Facility in King County, Washington. The New England Journal of Medicine. 27 de Março de 2020. doi: 10.1056/NEJMoa2005412

Análise do estudo: o estudo relata um surto de COVID‐19 num lar com 130 residentes e 170 trabalhadores em King County (um município de Washington, EUA). O caso índice foi notificado a 28 de Fevereiro de 2020, numa residente sem história conhecida de viagem ou contacto com casos confirmados, o que levou ao início de uma investigação epidemiológica aos lares do município. A 18 de Março tinham sido diagnosticados 167 casos de COVID‐19 no lar A, incluindo 101 residentes, 50 trabalhadores e 16 visitantes, com um tempo mediano entre sintomas e diagnóstico de 8 dias. A maioria dos casos tinha sintomatologia respiratória, mas registaram‐se 7 casos assintomáticos. As taxas de internamento dos casos confirmados foram de 55%, 50% e 6% nos residentes, visitantes e trabalhadores, respectivamente. Entre os residentes, a maioria (94%) dos quais com comorbilidades, a taxa de letalidade foi de 34%. Nessa mesma data, 30 outros lares do município já tinham identificado pelo menos um caso de COVID‐19, dos quais no mínimo 3 tinham uma ligação epidemiológica directa identificada com o lar A através da movimentação de trabalhadores e transferência de residentes.

Aplicação prática: os lares para idosos concentram por natureza vários factores de risco para o aparecimento de surtos de COVID‐19 com grande impacto: os trabalhadores frequentemente trabalham em vários lares, a população residente é idosa com comorbilidades e o índice de suspeição em casos de sintomatologia respiratória é baixo. São estabelecimentos nos quais é necessária uma atenção redobrada e com actividade proactiva, incluindo a monitorização activa diária tanto dos residentes como dos trabalhadores, e a adesão rigorosa às medidas recomendadas de prevenção e controlo da infecção.

Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro

Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)

Em doentes COVID‐19, a idade é um factor fundamental na determinação do risco, já que está directamente ligada à presença de doença mais grave, à necessidade de hospitalização e à mortalidade

Referência: Verity R, Okell L, Dorigatti I et al. Estimates of the severity of coronavirus disease 2019: a model‐based analysis. The Lancet Infectious Diseases. 2020. doi:10.1016/s1473‐3099(20)30243‐7

Análise do estudo: com base nos dados de 24 doentes falecidos e de 165 recuperados na China, os autores criaram um modelo estatístico com o objectivo de estimar a gravidade, a mortalidade e a infecciosidade da doença COVID‐19. Foi calculada a duração média entre o início dos sintomas e a morte do doente, comparando‐a até ao momento da alta hospitalar dos doentes, sendo de 17,8 dias e 24,7 dias, respectivamente. O rácio de infecciosidade aparentava ser semelhante entre os diferentes grupos etários, contrastando com o rácio de fatalidade, fortemente dependente da idade do doente, que aumentava a partir dos 50 anos. Os grupos etários com idade mais avançada apresentaram maior taxa de doença severa e de mortalidade, tendo sido observados os valores mais elevados na faixa etária com 80 ou mais anos, que atingiu uma taxa de mortalidade de 13,4%. É de referir que estas estimativas se baseiam em dados obtidos numa fase inicial da pandemia. Como tal, o seu foco pode incidir principalmente em doentes mais graves, não contabilizando possíveis casos ligeiros ou assintomáticos que possam não ter sido identificados. Adicionalmente, a capacidade dos serviços de saúde de Wuhan foi rapidamente ultrapassada, podendo também contribuir para uma sobre‐estimativa das taxas referidas.

Aplicação prática: os dados deste estudo vão ao encontro de outros, relativos à evolução, à duração média e à taxa de mortalidade da doença. Apesar de serem cálculos realizados numa fase inicial da pandemia, permitem estimar o impacto que a mesma pode ter globalmente, em especial na população mais idosa.

Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro

Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)

Doentes infectados com SARS‐CoV‐2 e com doença cardíaca incidente têm pior prognóstico durante o internamento hospitalar

Referência: S Shaobo, Q Mu, S  Bo et  al. Association  of  cardiac  injury with mortality  in  hospitalized  patients with  COVID‐19  in Wuhan, China. JAMA Cardiol Publicado online a 25 de Março de 2020. doi:10.1001/jamacardio.2020.0950

Análise  do  estudo: Foram analisados  416 doentes  (mediana da idade  64 anos,  51% mulheres) internados por SARS‐CoV‐2  no Renmin Hospital da Universidade de Wuhan. Cerca de 20% (n=82) vieram a desenvolver doença cardíaca durante o internamento. Estes doentes, eram mais idosos, apresentavam maior número de comorbilidades e tinham um conjunto de variáveis laboratoriais mais  alteradas,  quando  comparados  com  outros  doentes  sem  lesões  cardíacas  (nº  de  leucócitos  mais  elevado,  nível  de  PCR, procalcitonina e enzimas cardíacas mais altas – entre outras). Os raio X de tórax destes doentes apresentavam lesões pulmonares mais desenvolvidas. A evolução clínica durante o internamento  foi mais grave neste subgrupo de doentes,  requerendo maior suporte ventilatório não invasivo (46% vs. 4%) e/ou invasivo (22% vs. 4%). A percentagem de complicações clínicas foi também mais elevada em  termos de incidência de ARDS, insuficiência  renal, alterações hidroelectrolíticas, baixa de proteínas séricas e alterações da coagulação. A taxa de mortalidade intra hospitalar foi 10 vezes superior (51% vs. 4,5%).

Aplicação prática: como seria de esperar, doentes que durante o internamento por infecção por SARS‐CoV‐2 tiveram episódios de  lesão miocárdica  aguda  apresentaram maior  taxa  de  complicações e  uma mortalidade muito mais elevada. Eram  doentes bastante mais idosos  (médias de idades 74 vs.  60 anos) e com maior conjunto de doenças e  factores de  risco cardiovascular. Conclui‐se que estes doentes de alto risco devem ser seguidos com particular atenção durante o seu internamento com infecção com o SARS‐CoV‐2.

Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro

Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)

Existem factores clínicos que permitem identificar precocemente pior prognóstico em subgrupos de doentes infectados com o SARS‐CoV‐2

Referência: Zhou F, Yu T, Du R et al. Clinical course and risk factors for mortality of adult inpatients with COVID‐19 in Wuhan, China: a retrospective cohort study. Lancet March 9 2020. doi:10.1016/s0140‐6736(20)30566‐3

Análise do estudo: Estudo coorte retrospectivo que procurou comparar evolução clínica e factores de risco associados a mortalidade por SARS‐CoV‐2 em doentes internados na China. O estudo incluiu 191 doentes de dois hospitais, 135 do Jinyintan Hospital e 56 do Wuhan Pulmonary Hospital, de Wuhan, China. Cerca de metade dos doentes apresentava comorbilidades, sendo a principal a hipertensão arterial (30%), seguida de diabetes (19%) e doença coronária (8%). Na altura do internamento,  factores como 1) idade mais avançada, 2) D‐dímeros >1 ug/L e 3) score de SOFA  (falência multiorgânica) mais elevados no momento da admissão hospitalar indicaram maior probabilidade de morte hospitalar. O  RNA  viral era  detectável, em média, até  20  dias após  o  início  da  sintomatologia  nos  doentes  que  tiveram alta, mantendo‐se também detectável nos doentes falecidos.

Aplicação prática: Este é um estudo de uma coorte de doentes SARS‐CoV‐2 que apresenta sinais e sintomas, factores de risco e resultados semelhantes a várias outras, demonstrando que o quadro clínico é constante através de grupos de doentes, de países e de regiões do globo. Nesta coorte,  foi possível identificar os sinais de mau prognóstico do internamento hospitalar que podem ser colhidos precocemente à entrada, ajudando na gestão clínica destes doentes. O período prolongado de libertação viral justifica as medidas de isolamento dos casos.

Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro

Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)