Referência: Brooks S, Webster R, Smith L et al. The psychological impact of quarantine and how to reduce it: rapid review of the evidence. The Lancet. 2020(Fev 26);395(10227):912‐920. doi:10.1016/s0140‐6736(20)30460‐8
Análise do estudo: esta revisão seleccionou 3.166 estudos sobre o impacto psicológico de doentes em quarentena, dos quais 24 foram incluídos na análise final. Estes estudos provieram de 10 países e incidiram em escassos milhares de doentes em quarentena com infecções virais (SARS, Ébola, Influenza H1N1, MERS). Os factores mais negativos da saúde mental pré‐quarentena incluíram doença mental prévia e ser‐se profissional de saúde. Os factores de stress durante a quarentena incluíram a duração desta, o medo de infectar familiares e amigos, sentimentos de frustração e de tédio, preocupações com a logística diária (mantimentos, medicamentos, consultas, higiene pessoal) e percepção de falta de informação fiável e compreensível sobre a pandemia (a incompreensão dos níveis de risco que faz com que as pessoas assumam que vão muito provavelmente morrer). Por outro lado, os principais factores de stress pós‐quarentena foram os aspectos financeiros (perda de emprego sem planeamento possível para o futuro, mais marcada nas classes mais desfavorecidas) e o estigma das pessoas que estiveram infectadas (principalmente dos profissionais de saúde). Os autores sugerem estratégias para mitigação destes efeitos muito graves na saúde mental dos indivíduos em quarentena: mantê‐la durante o mais curto espaço de tempo possível, apoiar logisticamente as pessoas com necessidades prementes e promover o acesso a informação credível e relevante, investindo na comunicação com os cidadãos através de todos os meios possíveis. Um grupo de grande importância particularmente atingido neste contexto é o dos profissionais de saúde, que se sentem frustrados por não poderem estar na linha da frente no SNS e até estigmatizados como potenciais agentes de propagação da infecção a familiares e amigos.
Aplicação prática: as consequências da quarentena na saúde mental podem ser muito graves, existindo enorme incerteza sobre o seu impacto a longo prazo, já que nunca na história da Humanidade se tinham isolado pessoas sem doença. As medidas futuras para uma resolução da crise deverão levar em linha de conta esta dramática realidade.
Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro
Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)