Referência: Qun Li, Xuhua Guan, Peng Wu, et al. Early transmission dynamics in Wuhan, China, of novel coronavirus–infected pneumonia. NEJM Jan 31 2020 DOI: 10.1056/NEJMoa2001316
Análise do estudo: Neste estudo foram analisados os primeiros 425 casos confirmados de infecção pelo SARS‐CoV‐2 em Wuhan, China. Foram incluídos três grupos de doentes, com base no momento de início dos sintomas: 1) um primeiro, com início de sintomas antes do dia 1 de Janeiro de 2020 (dia em que foi encerrado o mercado de Huanan), 2) um segundo, entre 1 e 11 de Janeiro (dia em que forneceram os reagentes de RT‐PCR a Wuhan) e 3) um terceiro após o dia 12 de Janeiro. A maioria dos casos (55%) reportados antes do dia 1 de Janeiro tinha ligação ao mercado de marisco de Huanan, contrariamente aos casos subsequentes (8.6% de relação epidemiológica com o mercado). Os casos de pneumonia associada à infecção pelo SARS‐CoV‐2 duplicaram a cada 7.4 dias em Wuhan no período inicial da epidemia. Apesar da maioria dos casos precoces de infecção ter estado relacionada com o consumo de alimentos do mercado de Huanan, foi clara a existência de uma transmissão humana logo numa fase precoce da epidemia. O R0 calculado foi de 2,2 (isto quer dizer que, neste grupo, cada doente infectou 2,2 outras pessoas).
Aplicação prática: este estudo informa sobre a origem inicial dos primeiros casos da epidemia, num mercado em Wuhan e por consumo de carne de animais selvagens infectados. Combinado com estudos biológicos destas espécies, parece ser indiscutível que a origem do vírus esteve nos animais consumidos no mercado. Após esta primeira onda de infecção, o SARS‐CoV‐2 propaga‐se pelo contacto directo entre pessoas infectadas e não infectadas.
Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro
Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)