Em doentes graves infectados com SARS‐CoV‐2 a combinação lopinavir‐ritonavir não foi eficaz, mas parece ser possível esperar que ‐ em estudos futuros de maiores dimensões e duração ‐ estes agentes possam vir a demonstrar benefícios

Referência: B. Cao, Y. Wang, D. Wen, W. Liu, Jingli Wang, G. Fan, L. Ruan, B. Song, Y. Cai, M. Wei, D. Zhang, C. Wanget et al. A trial of  lopinavir–ritonavir  in  adults  hospitalized  with  severe  Covid‐19.  New  Eng  J  Med,  20  de  Março  de  2020.  doi: 10.1056/NEJMoa2001282

Análise do estudo: Trata‐se de um ensaio clínico com uma amostra de 199 doentes internados por SARS‐CoV‐2 grave. Os doentes foram aleatoriamente distribuídos em dois grupos: o experimental (com tratamento com lopinavir‐ritonavir – LR) e o de controlo (com as medidas de suporte habitual para estes casos). Os resultados principais ‐ a mortalidade aos 28 dias, o tempo até à melhoria clínica e a proporção de doentes com carga viral detectável em vários pontos do tempo ‐ não foram estatisticamente diferentes entre os dois grupos. O estudo não  foi ocultado  (isto é, a terapêutica era conhecida dos investigadores, podendo deste modo alterar  as suas decisões clínicas) e havia uma maior carga viral inicial no grupo tratado com LR. 

Aplicação prática: Não existe, até ao momento, nenhuma terapêutica eficaz para a doença grave causada por SARS‐CoV‐2, pelo que estudos analisando medicamentos antivirais são desejáveis. No presente estudo, embora estatisticamente não houvesse diferenças nos resultados principais, o grupo tratado com LR teve uma mortalidade aos 28 dias numericamente inferior (19,2% vs. 25%), a demora média nos cuidados intensivos foi menor (6 vs. 11 dias) e a percentagem de doentes com melhoria clínica aos 14 dias  foi mais elevada (45,5 vs. 30%). Todos estes resultados permitem acreditar na possibilidade de, se o estudo tivesse continuado com inclusão de mais doentes, poderia ser detectado um benefício com a terapêutica lopinavir‐ritonavir em todos os indicadores (os resultados das análises estatísticas dependem – entre outros ‐ do nº de doentes incluídos na amostra de um estudo: quando o número é modesto, as análises estatísticas podem dar um  resultado  não  significativo,  mesmo  que  ele  seja    real;  por  outro  lado,  se  o  número  for  maior,  pode  então  revelar‐se estatisticamente  significativo.  É  o  que  parece  ter  acontecido  neste  estudo).  Teremos  de  esperar  pelos  resultados  de  ensaios clínicos de grandes dimensões com tratamento com lopinavir‐ritonavir, mas esta terapêutica parece razoavelmente promissora.

Autores: Juan Rachadell , Raquel Vareda, Fausto S.A. Pinto, Rodrigo Duarte, Susana Oliveira Henriques e António Vaz Carneiro

Instituto de Saúde Baseado na Evidência (ISBE)

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